Sócrates e realmente justo?
Resumen
Cada ato da fala é urna provocagäo. Urna provocalo nao
entendida como insulto, mas como incitamento ao
diálogo ou, por vezes, à auséncia dele, acabando entáo por
se tomar um insulto. Quando pronunciamos palavras, com a in tenso
de comunicar algo, por mais banal que este algo seja, o conteúdo do
nosso discurso veicula o nosso estado de espirito, trai as nossas expetativas
ou mascara as nossas afedes. Militas vezes somos, por isso, acusados de
náo ter entendido real e corretamente o que nos era pedido, de nao ter
respondido com ed u ca lo ao que o interlocutor nos dizia, em suma,
de sermos injustos. Esta intermitencia na comunicalo di azo a muitos
malentendidos, quer nos discursos que construimos acerca do nosso
quotidiano viver, quer nos discursos que avanzamos para análise filosófica.
Assim, cada interlocutor — transportando consigo experiencias, vivencias
pessoais e intransmissíveis — parece-se com um cruzamento sempre novo,
com urna estrada sempre por refazer e por ‘ajustar’, onde os buracos e as
lombas da comunicado às vezes se conhecem e se conseguem evitar, outras
vezes se esquecem, se ignoram e nos fazem saltar. Portanto, o filósofo deve ser capaz de adivinhar, desvelar, classificar o feitio do interlocutor que se
lhe apresenta, se pretende evitar que o discurso termine em mera aporia.